Conversa de coveiros

- E agora, viu no que dá desenterrar defunto do soulmitério?

- É. vi, sim. Mas foi melhor assim, não foi?

- Não sei. É bom que assim você aprendeu: quem brinca com morto um dia cai na cova.


[aí é.]

Mais uma vez essas cores me tomam a boca
e de um amargo tão intenso
arranham minha garganta
e me invade uma sede como se o de repente fosse o corpo inteiro um deserto
de dentro as vozes confusas entre o desejo e a lembrança
repulsa e amarras se abraçam numa valsa de compasso duvidoso

se não fosse tanta a vontade de falar...
se não fosse tanta a vontade...

O olhar voltado sempre ao céu
cada avião uma estrela
e mais sabor amargo na boca
do colorido que não se encontra mais.

promessas de ano novo

Todos os anos a tradição se repete: festas, fogos, champagne, brindes, branco, 'adeus ano velho... feliz ano novo', 'esperança que se renova', 'paz, amor, saúde e prosperidade'.
Tudo é sempre tão igual...
aliás, acho que há um ano atrás escrevi (quase) a mesma coisa, se não estou enganada.
Talvez seja a prova de que em mim (quase) nada mudou de um ano pra cá. Mas isso é controverso... esse ano foi de grandes mudanças sim. Grandes e, acredito, perenes. É, talvez as minhas convicções e opiniões sobre essas comemorações não tenham mudado. Não mudaram mesmo. Como também não mudou minha maneira de agir nessas ocasiões. Variações de humor constantes e que em muito tem a ver com minhas 'companhias'. Eu gosto mesmo é de carnaval. Pronto.

Esse ano, como é a praxe, lista de promessas para o ano novo. A maior parte delas não se cumprem. Ou melhor, eu não as cumpro. Não as escrevo; todas as 'resoluções' [boa parte delas não são, digamos, bem resolvidas na minha cabeça, e, por isso, sujeitas sempre a mudanças] são desejos apenas guardados na mente. Será que se eu as transcrevesse seria mais fácil cumpri-las? Não sei. De qualquer forma...

a primeira delas eu já cumpri: longe agora do meio mais fácil de enlouquecer via internet, parece que tirei um peso de 100kg das costas. 100kg a menos de neuroses e fixação por coisas inúteis.

O ano começa bem. Sem nuvens carregadas e previsões de temporais. Tempo quente e um 'sol diferente no céu'.
E mais do que isso: logo logo chega o carnaval. E isso sim me faz feliz!
Porque é de carnaval que eu gosto. A festa. O ópio que é a festa. Os quatro eternos e que tão cedo terminam dias de carnaval. ;)

ATENÇÃO: essa vida contém
cenas explícitas de tédio,
nos intervalos da emoção.

(Arnaldo Antunes)


isso foi ó pra ilustrar.
mais um post inúltil nesse final de ano chato.
[entenda-se: o ano tá chato e o final dele superou minhas expectativas.]

Criaram para mim uma vida:
Compuseram o roteiro;
Criaram as falas;
Moldaram os pensamentos.
Tudo em perfeita conformidade com os preceitos psico-fisiológicos.

Mas como é a praxe, esqueceram de um detalhe.
E seguindo a tal teoria do caos
o meu bater de asas mudou o rumo de tudo.

Esqueceram de pôr o mecanismo anti-fuga da vida que me foi criada.
Bati asas.
Agora, que venha o tufão.


;)

[em Recife, clima de 'tá-tudo-bem-apesar-de'.]

Não tenho muito pra escrever. E isso não passa de um grito.
Sentimento de que tudo o que eu amo vai embora.
E agora...
Não quero mais chegar em casa, sentar no sofá.
Não quero abrir a porta de trás e procurar sem ver.
Certeza de que tudo o que eu amo vai embora. E isso dói. E dói muito.

Já não é por acaso que me atrevo a escrever.
Já não é para falar de mim ou de nós ou dos outros.
Não é mais para querer mostrar minha verdade.
Tamanha pretenção querer mudar alguma com meus manifestos ignotos.

A palavra pelo prazer da palavra.
Implicar
para [me] explicar.



comentário em off (deveria ser só um pensamento...):
paciência, gabriela, paciência.
um dia você consegue encontrar
"page not found".