RosaAzulVermelhoAmareloVerdeLaranjaLilás. PretoeBranco não é cor. Mas Cinza é.

domingo, novembro 27, 2005

O relógio

Parada a olhar pro relógio, vejo que as horas demoram a passar, os ponteiros ainda estão no mesmo lugar. Vejo o ponteiro dos segundos, gira... gira... você passa na minha mente, parece um filme de animação barata e mal feita... de tanto tempo já o vejo distorcido, embaçado, claro... há quanto tempo os meus olhos aguardam a sua chegada? Há tanto que desejo o bafo quente da sua respiração... todas as perspectivas são inúteis nessa passagem... tenho a impressão de ver sua sombra, de repente ouço os seus passos no piso de madeira. Sim, eu sei que são os seus, sempre os reconheceria, fortes e paradoxalmente leves... corro de um lado a outro para, quem sabe, te encontrar... não... toda procura é vã, não passa de ilusão...

Me assusto com minha reação. Penso que vivo numa obsessão... respiro fundo e tento me acalmar... ainda estou aflita... esse relógio... o tic-tac incessante aumenta a minha tensão... NÃO AGUENTO!!... agora sim, está quebrado... quero ouvir esse tic-tac agora!.. AI! Um caco de vidro cortou o meu dedo... a dor é ínfima quando comparada à dor de minha alma... apareça ou posso morrer!

Os cacos de vidro estilhaçados me sugerem mil coisas... sentada no chão, mordo o meu lábio, lembro do teu e choro... compulsiva, soluço... seguro os meus cabelos e puxo com força – a minha vontade é de arrancá-los de vez, assim como queria arrancar você do meu peito! – não posso mais suportar essa ausência... antes a morte a ficar sem seu corpo... choro, me rasgo, rastejo, me jogo contra a parede... daqui posso ver garrafas de bebidas... ainda é muito pouco para sarar minha dor... só você seria capaz de me tirar do inferno e me dar asas novamente... ou você ou a morte... os cacos de vidro estão tão próximos... a dor seria maior... eu quero a dor, eu busco a dor... ouço a porta se abrir... o sangue que escorre molha todo o meu corpo... é quente... estou dormente... de repente vejo o seu sorriso vindo na minha direção... Por que demorou tanto? ... foi minha última visão...

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