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domingo, junho 03, 2007

E agora, companheiro?

Não quero fazer desse blog um ambiente político, mas também não posso deixá-lo alheio aos acontecimentos do mundo. Aliás, a expressão certa nem é "não posso", mas sim, "não quero". E não quero pelo motivo mais simples: não seria este um espaço para o livre pensamento? Pois então, meu livre pensamento resolveu assim, de súbito, parar um pouco de tentar poetisar vida e pôr os pés no chão. O problema é que no chão há mais lama do que terra firme e seca para pisar.

Pois é, companheiro, essa pessoa que vos fala, que sempre defendeu com tanta veemência suas idéias e convicções já não tem a mesma força para gritar. Não que as idéias tenham mudado, isso jamais. Mas os que pareciam sempre defendê-la, o coro que entoava junto a mesma canção se desfez e hoje mudou de tom. A banda inteira parece ter mudado de tom, de música, até o rítimo e a língua mudaram também. Será que ainda há quem acredite nos meus ideais? Será que ainda sobra quem lute por eles?

Vão me dizer que sim, que o mundo não está perdido, que há solução. Há revolucionários ainda lutando pelo que acreditam e com a coragem, a determinação que eu não estou tendo. Eles não se acovardaram assim como eu. Na realidade, eu que me afastei da luta, me abstenho de ir atrás da minha ideologia. E por que?

Simples assim: ainda creio em quase tudo que sempre acreditei, a única coisa que mudou foi a crença nos homens. Esses sim me decepcionaram - e por favor, engraçadinho nenhum venha dizer "ah, os homens não prestam mesmo... são canalhas!"... são sim, mas aqui não me refiro a homens enquanto gênero sexual, refiro-me antes à espécie humana, animal! - e decepcionam a cada dia. Parece que mudam sempre de postura ao conseguirem o que desejam. O poder não serve para que os sonhos coletivos deixem de ser apenas sonhos, mas ganham o novo sentido. E a disputa pelo poder, e principalmente para mantê-lo, faz com que tudo o que desejamos um dia vá por água abaixo.

É absurdo ver que quem sempre se pôs a favor de uma sociedade mais justa e igualitária, que sempre pregou a democracia, a liberdade para agir, para lutar, sejam agora os carrascos, que se posicionam contra o que sempre buscaram e tentam tolher a nossa liberdade, a nossa luta. É mais absurdo perceber que, após entregar o nosso país nas mãos dessas pessoas, nos sentimos presos, às vezes até privados de criticidade, receiosos até de assumir que possamos ter agido/acreditado errado, ou que simplesmente estamos decepcionados e sem saber ao certo a quem pedir socorro.

E agora, o que dizer? O que fazer? Tornar-me militante radical de alguma força que defenda uma revolução armada e querer acabar com tudo para reconstruir? Entrar para uma facção criminosa? Engajar-me em organizações que tentem fazer a justiça social que o governo não faz?
Para que? Se logo ao pensar nisso tudo me vem a idéia de que, ao chegar ao "objetivo" as pessoas vão ter a cabeça virada pela ambição ao sucesso e tudo vai continuar como já é. Os ideais mais uma vez vão se perder em meio ao turbilhão de novidades que o poder e a consagração trazem.

De verdade, me vejo numa selva de pedras, ainda que isso possa parecer clichê, como é, de fato. E diante do que vejo, eu, que sempre me pus numa posição crítica, seja como for, me vejo na obrigação de tomar algum partido, ainda que não saiba qual partido tomar.

3 comentários:

Raquel disse...

Tenho duas frases para vc. A primeira ouvi numa das muitas aulas de sociologia q tive, não lembro de quem é, mas dizia: "todo partido politico usa da ideologia para chegar ao poder, apos conseguir o q almeja a abandona" era mais ou menos isso. A segunda frase foi meu paiq disse, militar, a favor da ditadura e por incirvel q pareça tem um lado socialista: Deviamos ter atirado em todos os santinhos da epoca da ditadura, pois esses sao os ladroes de hj, FHC, Ze dirceu e por ai vai. Pois é não há quem nao fique desanimado frente a essas nojeiras da politicagem e pior se sentido usado. Mas quanto ao partido q seguir? Que tal o seu? Seus principios, sua ideologia, sem se render com o tamanho do incendio. LEmbra da fabula do beija-flor q de gota em gota tentava apagar o fogo da floresta.
Beijos

Anônimo disse...

Eu não concordo que deveriam ter atirado em todos os santinhos, porque meu pai era um deles e eu não teria nascido. Contudo, eu ouvi algo do João Moreira Salles, em uma palestra sobre a revista Piauí, que se encaixa bem aqui.

Ele disse que fundou a Piaui porque se sentia orfão de um jornalismo diferenciado e queria saber o tamanho do orfanato.

Acho que aqui ocorre o mesmo. O orfanato é grande, mas não fomos nós que abandonamos a causa, eles é que pularam fora. Nós temos que continuar navegando. Os partidos são apenas uma forma de aglutinar pessoas, mas não a única. Existem grupos que, desvinculados de partidos, são muito mais atuantes e fiéis à construção de um mundo mais justo.

Gabi, se você quiser conversar mais sobre isso, a gente pode marcar um papo aqui em casa, que nem foi esse do Patativa do Assaré. Acho que vale a pena. Eu conheço muita gente que pensa exatamente como você e isso é um passo para construirmos algo legal.

Adorei seu blog. Fique bem =)

Anônimo disse...

Apenas um P.S - quando eu falei em santinho, entendi que eles seriam os comunistas ou os simpatizantes da esquerda brasileira.

FHC e Dirceu são duas vertentes diferenciadas de uma mudança de pensamento que enfraqueceu a imagem da esquerda, no Brasil. Não é porque eles eram de esquerda que desiludiram seus companheiros e fizeram tudo isso. Foi justamente porque mudaram de lado, deixaram os ideais propostos pela esquerda que eles fizeram tudo aquilo.

Além disso, se for para matar todos os "nojentos que roubam", a lista é grande e tem gente de todas as direções políticas, não apenas da linha dos santinhos. Fico impressionada com certas coisas que leio...